A minha ligação familiar ao trabalho com pedra, faz com que tenha um imenso respeito por tudo e todos que, no passado, tiravam desta atividade o seu sustento.
Por todo o Mediterrâneo, são comuns estes cenários rurais, em que o Homem precisou de arrancar pedra à terra, para mais tarde semear e matar a fome. Isto, claro, à custa de um tremendo esforço físico que, nos dias de hoje, e com todo o tipo de máquinas existentes, tudo parece muito primitivo. A verdade é que só passaram algumas dezenas de anos, e ainda encontramos pessoas que se recordam desta realidade. No outro dia, falando com um amigo, ele dizia-me que era normal contratar grupos de homens para, durante meses, procederem ao arranque de pedras, e assim transformar um mato rochoso em terra produtiva. Muitas vezes, estes homens tinham de estar no dito terreno antes do nascer do Sol, e isso obrigava a percorrer longas distâncias a pé, durante a noite, e, claro, como o trabalho era de Sol a Sol, o regresso a casa era feito igualmente durante a noite.
Ao longo dos séculos, este gigantesco esforço humano, não só alterou a paisagem, como permitiu a sobrevivência da população algarvia. E note-se, por exemplo, o cuidado e respeito pelas árvores, num tempo em que as construções deviam contorná-las, pois era delas que vinha o "pão"...
Por tudo isto, gostava hoje de partilhar alguns exemplos de mega-construções, feitas com pedras soltas, em que o único objetivo foi tornar a terra arável. Estas impressionáveis construções têm, por vezes, vários metros de altura e de largura, por muitos de comprimento, e estão localizados no interior das propriedades agrícolas, e são verdadeiros monumentos ao povo algarvio.
Sou nostálgico, mas não ao ponto de desejar voltar a esta realidade... mas não posso deixar de registar o meu respeito e admiração.