domingo, 15 de janeiro de 2012

Pedra, suor e sangue, o Algarve de outros tempos...








A minha ligação familiar ao trabalho com pedra, faz com que tenha um imenso respeito por tudo e todos que, no passado, tiravam desta atividade o seu sustento.
Por todo o Mediterrâneo, são comuns estes cenários rurais, em que o Homem precisou de arrancar pedra à terra, para mais tarde semear e matar a fome. Isto, claro, à custa de um tremendo esforço físico que, nos dias de hoje, e com todo o tipo de máquinas existentes, tudo parece muito primitivo. A verdade é que só passaram algumas dezenas de anos, e ainda encontramos pessoas que se recordam desta realidade. No outro dia, falando com um amigo, ele dizia-me que era normal contratar grupos de homens para, durante meses, procederem ao arranque de pedras, e assim transformar um mato rochoso em terra produtiva. Muitas vezes, estes homens tinham de estar no dito terreno antes do nascer do Sol, e isso obrigava a percorrer longas distâncias a pé, durante a noite, e, claro, como o trabalho era de Sol a Sol, o regresso a casa era feito igualmente durante a noite.
Ao longo dos séculos, este gigantesco esforço humano, não só alterou a paisagem, como permitiu a sobrevivência da população algarvia. E note-se, por exemplo, o cuidado e respeito pelas árvores, num tempo em que as construções deviam contorná-las, pois era delas que vinha o "pão"...
Por tudo isto, gostava hoje de partilhar alguns exemplos de mega-construções, feitas com pedras soltas, em que o único objetivo foi tornar a terra arável. Estas impressionáveis construções têm, por vezes, vários metros de altura e de largura, por muitos de comprimento, e estão localizados no interior das propriedades agrícolas, e são verdadeiros monumentos ao povo algarvio.  
Sou nostálgico, mas não ao ponto de desejar voltar a esta realidade... mas não posso deixar de registar o meu respeito e admiração.

5 comentários:

  1. Mar sonoro
    dozepoemas.blogspot.com

    Encontrei este seu Blogue cheio de alma, por acaso, já tinha deixado algures essa indicação.
    Sou Lisboeta com origens no Norte mas admiro profundamente o Algarve...este Algarve rural que a grande maioria das pessoas não conhece.
    Deixo ficar o enderesso do meu Blogue, por uma questão de seriedade...utilizo muito tudo o que por aqui põe neste seu espaço,no meu espaço, para divulgação dessa terra maravilhosa...!!!

    Oa meus sinceros parabéns pelas mágnificas imagens.

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  2. Actualmente já não se constroem estes valados, no entanto é bom registar estas imagens para que possam ser recordadas as pessoas que aí trabalharam arduamente.
    Parabéns por este excelente blogue!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Zé Júlio

    Que muros impressionantes. Recordei-me imediatamente do Castro do Zambujal perto de Torres Vedras. E no entanto, aqui não há objectivos defensivos. Procurava-se apenas limpar as terras dos calhaus e essa obra devia ser profundamente dura e trabalho de gerações. Aliás, obras deste teor são tão interessantes, que a UNESCO classificou todo o extenso conjunto de vinhedos do Douro património mundial, pois o os milhares de socalcos espalhados por dezenas de kms em terremo extremamente acidentado são uma obra de engenharia popular única.

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  5. Excelentes imagens! Conheço bem esses exemplos de trabalho árduo aqui no Algarve. Não deixa de impressionar o comum dos mortais, é de facto magnífico! Aliás tenho exemplos desse trabalho duro nos meus antepassados. Num dos terrenos pertencentes à minha família há uma verdadeira obra de arte que é pena estar ao abandono. O terreno considerado ruim, situado num vale muito fechado e de terra magra foi em tempos muito produtivo graças às mãos de um bis-avô meu que com as pedras lá existentes encaminhou o barranco que por lá passa numa levada que mais parece as da Madeira. Cada vez que lá vou fico sempre impressionado. O terreno agora cheio de mato e silvas já foi em tempos o sustento da família onde abundavam as figueiras, parreiras, pereiras, oliveiras,...O meu avô contava-me que aquilo era um jardim digno de se ver, enfim eram outros tempos. No entanto o fruto do trabalho com mais de 50 anos ainda perdura. Após os incêndio que destruiu parte da serra do caldeirão em 2003, e que queimou este terreno todo não ficando quase nenhuma árvore nem arbusto que bafejasse verde, não é que as oliveiras rebentaram do chão, e mansas! Passados estes anos todos e mesmo completamente tapadas de mato, só agora em 2011 deram azeitonas, e que azeitonas! Continuação do excelente trabalho a mostrar o que de bom há nesta terra. Abraço!

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